domingo, 12 de julho de 2009

Horácio



Como eu disse, o objetivo deste blog é manter minhas anotações para que elas não se percam entre outros papéis, não acabem no lixo e eu não fique perdendo tempo tentando encontrá-las.

Pra começar, preciso guardar a tradução de um dos meus poemas favoritos do meu poeta favorito, de uma antologia que nunca guardo no mesmo lugar e por isso demoro pra achar.

O poema fala da imortalidade da poesia, que a gente pode estender para a imortalidade de toda obra de arte, o que incluiria desde a Mona Lisa até o moonwalk do Michael Jackson. Talvez isso também tenha alguma relação com “Elvis não morreu”, porque o que certas pessoas deixam na terra depois que morrem é tão incrível que parece mesmo que de alguma forma elas estão vivas.

Só mais uma coisinha antes do poema: quando eu digo que o meu poeta favorito é o Horácio lá da Roma antiga, alguém sempre lembra do Horácio do Maurício de Souza.


Ode III, 30 - Horácio

Tradução: Haroldo de Campos

Mais perene que o bronze um monumento
ergui, mais alto e régio que as pirâmides,
nem o roer da chuva nem a fúria
de Áquilo o tocarão, tampouco o tempo
ou a série dos anos. Imortal
em grande parte, a morte só de um pouco
de mim se apossará. Que eu semprenovo,
acrescido em louvor, hei de crescer
enquanto ao Capitólio suba o Sumo
Sacerdote e a calada vestal. Aonde
violento o Áufido espadana, aonde
depauperado de água o Dauno agrestes
povos regeu, de humilde a poderoso
dirão que passei: príncipe, o primeiro
em dar o eólio canto ao modo itálico.
Assume os altos méritos, Melpómene:
cinge-me a fronte do laurel de Apolo.

Algumas notas (que estavam em alguns daqueles meus papéis ambulantes, destinadas a não sobreviver):
- bronze: metal considerado duradouro.
- Áquilo: também conhecido pelo seu nome grego Bóreas. O violento e frio vento do norte.
- Semprenovo: não digitei errado não, é só mais uma das muitas palavras inventadas pelo Haroldo pra deixar o texto em português tão poético quanto o latino.
- Capitólio: o templo romano de Júpiter, localizado na colina Capitólio em Roma. O Sumo Sacerdote subia lá pra realizar o culto a Júpiter levando uma virgem.
- Áufido: era o rio da Venúsia, cidade onde o Horácio nasceu.
- Dauno: foi rei no Lácio antes do Enéias chegar lá. Se o Enéias fundou Roma, imagine a antiguidade desse aí.
- Eólio canto: relativo aos cantos dos poetas Alceu e Safo, da região grega chamada Eólia. Os poetas romanos seguiam a tradição dos poetas gregos.
- Melpómene: musa da tragédia e da poesia lírica (que é a que o Horácio escreve). As musas antigamente eram deusas, não mulheres.
- Laurel de Apolo: a coroa de louros do deus da música e da poesia. Ele tinha muitos atributos (Apolo era o máximo!), mas só citei os relevantes para este contexto.

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